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A prisão de José Rainha, o leninista nada exemplar, e algumas coisas que precisam ser ditas

Eu sei que vocês já leram a notícia de que a Polícia Federal prendeu José Rainha. Deixo aqui o registro porque é preciso


destacar uma coisa importante, o que faço no fim do post:



Polícia Federal prende José Rainha por desvio de verba

Por José Maria Tomazela, no Estadão Online:

Em operação iniciada nesta quinta-feira, 16, a Polícia Federal prendeu o líder sem-terra José Rainha Júnior, no Pontal do Paranapanema. Ele é acusado de desvio de dinheiro público destinado a programas de reforma agrária. Agentes da Polícia Federal de São Paulo e de Presidente Prudente cumpriam mandados de prisão também contra dirigentes do Instituto de Colonização e Reforma Agrária (Incra) no Estado de São Paulo. Ainda no início desta manhã, foi detido o superintendente do Incra em São Paulo, Raimundo Pires da Silva, e pelo menos dois coordenadores regionais do órgão. As ordens de prisão foram expedidas pela Justiça Federal de Presidente Prudente em processo que apura o desvio de recursos da reforma agrária.

Em abril, a Justiça Federal aceitou denúncia oferecida pelo Ministério Público contra José Rainha, atualmente à frente do MST da Base, por desvio de recursos voltados a assentamentos no Pontal do Paranapanema. Outras oito pessoas foram acusadas do mesmo crime. A Operação Desfalque da PF cumpre ao todo dez mandados de prisão temporária, sete mandados de condução coercitiva e treze mandados de busca e apreensão nas cidades paulistas de Andradina, Araçatuba, Euclides da Cunha Paulista, Presidente Bernardes, Presidente Epitácio, Presidente Prudente, Sandovalina, São Paulo e Teodoro Sampaio.

A investigação iniciada há dez meses foi desenvolvida com acompanhamento do Ministério Público Federal. Em nota, a PF afirmou que o grupo acusado usava associações civis, cooperativas e institutos para se apropriar de recursos públicos destinados à manutenção de assentados em áreas desapropriadas para reforma agrária.

Voltei

José Rainha é uma figura tão, digamos, “polêmica”, que foi recusado até pela nave-mãe, o MST de João Pedro Stedile. Por isso, ele fundou o “MST da Base” — o MST da B. As bandeiras e até “a” bandeira são as mesmas. Só que, em São Paulo, quem manda é ele. Em parte, isso se deve ao fato de ele querer dividir a liderança com Stedlile, o aiatolá Khomeini do movimento, o que o grande líder espiritual não pode aceitar. Mas parece que Rainha também não chega a cultivar aquele ascetismo leninista que o Grande Chefe exige dos liderados. Seria mais tentado por apelos mundanos do que Stedile considera saudável. Rainha já andou freqüentando a crônica policial por questões que nada têm a ver com terra — posse de arma pesada, por exemplo.

Stedile decidiu que ele deveria ficar por sua própria conta e largou a seção paulista do MST na sua mão, deixando claro que se trata, assim, de um estado independente na nação “emessetista”. Mas jamais desistiu de retomar o controle. Pois bem!

Os motivos pelos quais Rainha está sendo preso agora deveriam levar, segundo apurou uma CPI, toda a cúpula do MST para a cadeia: desvio de verba da reforma agrária por meio de cooperativas e entidades fantasmas. Se Rainha desviou em proveito próprio ou para sustentar o movimento, isso eu não sei. Quem faz a distinção entre malfeito para benefício pessoal e malfeito para beneficiar o partido é a ministra Gleisi Hoffmann, não eu. Acho ambos condenáveis.

Se é como informa a reportagem, Rainha está muito bem como um preso, mas cumpre indagar: por que só ele? E todas as evidências levantadas pela CPI de que recursos da reforma agrária foram parar nas mãos de “cooperativas” do MST, que nem existência legal tem?

Vamos torcer para que a prisão de Rainha não seja apenas um capítulo da “reunificação do movimento”, entenderam?



Rainha não é “ex-líder do MST”; em SP, é líder!



Jornal Nacional chama José Rainha de “ex-líder do MST”. Não é, não! Isso é “emessetização” do noticiário, voluntário ou não. Embora ele lidere uma espécie de “MST do B”, o movimento, no estado, é comandado por ele.

Por Reinaldo Azevedo



Rainha está preso? Então resta agora demitir Gilberto Carvalho



Aqui e ali se tenta demonstrar que Dilma Rousseff é uma governante um pouco diferente, mais preocupada com a legalidade e com a racionalidade etc e tal. Eu posso me dispor a começar a examinar essa hipótese remota no dia em que ela der o bilhete azul para o “Gilbertinho”, o tal Gilberto Carvalho, secretário-geral da Presidência. Ele é o inventor da tese de que as mortes no Pará fariam parte de uma escalada para executar lideranças do movimento social. Seu delírio virou matéria na New Yorker e está em todos os círculos decolados mundo afora. Pior pra ele: acabou atingindo até a reputação de Dilma.

No governo, Gilbertinho é o encarregado de fazer a interlocução com os movimentos sociais. Por isso, ele comentou a prisão de José Rainha, o líder do MST do B em São Paulo. Leiam. Volto em seguida:

Por Tania Monteiro, da Agência Estado:

O ministro-chefe da Secretaria-Geral da Presidência, Gilberto Carvalho, responsável no governo Dilma Rousseff pela interlocução com os movimentos sociais, ficou “muito triste” e “lamentou” a prisão efetuada pela Polícia Federal (PF) do líder sem-terra José Rainha Júnior, ocorrida na manhã desta quinta-feira, 16, em São Paulo. Ele é acusado pela PF de desvio de dinheiro público destinado a programas de reforma agrária. Segundo Carvalho, a prisão dele “tumultua o processo de reforma agrária” e “a relação com os movimentos”. “Por isso estamos extremamente preocupados”, afirmou.

Embora reconheça que a prisão foi decretada depois de dez meses de investigação pela PF, Carvalho foi cauteloso ao comentar o assunto, justificando que “ele está sendo acusado de um crime, mas nós preferimos tentar entender o que está acontecendo de fato”. O ministro comentou ainda que pediu informações ao Ministério da Justiça sobre o que, de fato, aconteceu, mas ressaltou que os advogados do Rainha ainda não tiveram acesso aos autos. “Portanto, ainda é cedo pra qualquer palavra que incrimine ou não ele. Vamos aguardar”, observou.

O ministro Carvalho afirmou que ficou “muito triste” com o ocorrido e está “extremamente preocupado” com isso. “Ficamos muito tristes com isso, muito preocupados, mas com prudência para sabermos, de fato, todo o processo que aconteceu”, comentou Gilberto. Sobre a prisão decretada pelos agentes da PF de São Paulo e de Presidente Prudente do superintendente do Incra em São Paulo, Raimundo Pires da Silva, e de pelo menos dois coordenadores regionais do órgão, Carvalho foi direto: “As medidas que tivermos de tomar em relação ao Incra o faremos imediatamente, como o eventual afastamento das pessoas que estão envolvidas, a depender das informações que tivermos ainda durante o dia de hoje. Tomaremos medidas para afastar as pessoas que estiverem efetivamente envolvidas em algum desmando ou malfeito”.

Voltei

Notem que Carvalho reveste Rainha de uma aura de santidade porque, afinal, ele é líder de um “movimento social”. Contra todas as evidências, contra as investigações da Polícia Federal, contra, em suma, a realidade, ele demonstra estar terrivelmente compungido. Já no que respeita às mortes no Pará, sem ter nada nas mãos além de seus próprios preconceitos, ele inventou uma conspiração contra os movimentos sociais.

Entenderam? No mundo de Carvalho, o petista, alguns são inocentes mesmo que sejam culpados, e outros são culpados mesmo que sejam inocentes.

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