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O CONTRA-ATAQUE AMBIENTAL DOS RURALISTAS

Os produtores rurais começaram ontem a colocar em prática uma estratégia política para "sair das cordas" na contenda ambiental ao anunciar um amplo programa de pesquisas para revisar os conceitos e índices hoje utilizados na proteção de biomas e ecossistemas do país.
O "Projeto Biomas", que custará R$ 20 milhões ao longo de nove anos, oferecerá as bases científicas para a alteração dos critérios de áreas de proteção ambiental, criando um novo conceito de "áreas sensíveis" e fixando graus diferentes de preservação a ser aplicados em áreas de preservação permanente (APPs) e de reserva legal (RLs).
Conduzidas pela Embrapa, estatal vinculada ao Ministério da Agricultura, as pesquisas envolverão 350 pesquisadores e servirão como base científica para as teses políticas dos ruralistas no Congresso Nacional. "Vamos recuperar áreas sensíveis e dar base para novas leis no Congresso", avisou a presidente da Confederação da Agricultura e Pecuária (CNA), senadora Kátia Abreu (DEM-TO).
A parceria CNA-Embrapa ocorre no momento de maior tensão dos embates entre ruralistas e ambientalistas por causa da reforma do Código Florestal Brasileiro, em vigor desde 1965. "Temos que nos livrar dessa sopa de letras. Não interessa os atuais percentuais de reservas legais ou a declividade de APPs. O objetivo é recuperar o que foi feito por desconhecimento ou os problemas causados pelas mudanças na legislação", disse a senadora.
A "nova fase" de relacionamento dos ruralistas com as questões ambientais deve fazer prevalecer a "razão científica". "Não dava mais para ser esmagado e visto como bandido. Entregamos os destinos do setor à ciência", afirmou Kátia Abreu.
O projeto prevê pesquisas iniciais em seis áreas de 500 hectares em cada um dos seis biomas nacionais - Amazônia, Mata Atlântica, Pantanal, Cerrado, Caatinga e Pampa. As premissas são "desmatamento zero", pagamento por serviços ambientais como compensação pela manutenção de florestas, reflorestamento de APPs fluviais, encostas e topos de morros, além de consolidação de áreas de produção de alimentos.
A Embrapa coordenará os trabalhos de gestão, seleção de "fragilidades" e a implantação de uma rede nacional de experimentação em 3 mil hectares, que será estendida para até 15 mil hectares em outras etapas. A parceria também prevê a transferência de tecnologia aos produtores.
"Temos que desapaixonar e tirar o partidarismo do assunto. Vamos fazer patrimônio valer mais por ser absolutamente correto", defendeu a presidente da CNA, que lamentou a ausência de ONGs ambientalistas e de representantes do Ministério do Meio Ambiente no anúncio do novo projeto. "Não podemos deixar dividir o Brasil. Não precisamos de ministros que tentam disseminar a discórdia", afirmou, em referência indireta ao ministro Carlos Minc. "Precisamos findar essa divisão sem razão de ser entre ruralistas e ambientalistas."
No evento, que reuniu as principais lideranças do setor rural na sede da CNA, o ministro da Agricultura, Reinhold Stephanes, atacou diretamente as ONGs ambientalistas. "Até aqui, meio ambiente era monopólio de ambientalistas. Só eles decidiam sobre o tema", criticou. Adversário interno do colega Carlos Minc, o ministro reclamou da exclusão de sua Pasta das discussões sobre meio ambiente. "Até 30 dias antes da COP [conferência da ONU sobre mudanças climáticas], o ministério não tinha sido chamado para debater o tema". Para ele, o ambientalismo é uma "doutrina" que precisa ser aplaudida.
Conforme o presidente da Embrapa, Pedro Arraes, foram superadas algumas das principais divergências científicas que impediam a aproximação da agricultura com o meio ambiente.

Fonte: Valor Econômico

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